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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Da Primeira Vez



Lembro que ela se apoiou em um dos compartimentos do closet, colocou as mãos sobre o sutiã e me olhou de volta com a cara de quem preparava uma surpresa. Os poucos meses de namoro ainda não tinham me dado a chance de testemunhar aquilo e, parecia, que finalmente tinha chegado a hora. Como Copacabana contando os segundos antes de explodir em fogos de artifício no Reveillon, meu rosto se enervava.
Com apenas dois dedos ela fez o clique na parte de trás das costas e aumentou o suspense. Impressionante, mas perto do menino que eu era, ela me engolia como se já tivesse encenado aquilo tudo só para me deixar daquele exato jeito: entregue. Tudo por aquilo. Minha cabeça pensava e ao mesmo tempo nublava. Os próximos segundos seriam realmente um marco. É que garoto nenhum consegue esquecer a primeira vez que vê uma garota sem roupa.
Não sei de onde vem o fascínio das pessoas pelas partes do corpo de uma mulher. Falo no sentido mais amplo porque acredito que nem só a ala masculina admire seios, bundas, barrigas, mãos, olhos, colo e braços femininos. Para um moleque feito eu, aquele mundo que antes só era possível na imaginação. O passo dado à penumbra daquele closet mudava tudo.
Quando as mãos finalmente se retiraram, alguma coisa aconteceu que a fez sorrir. Não sei se meu rosto iluminou, se meus olhos brilhavam ou qualquer outra coisa parecida, mas ela deixou escapar que eu parecia uma criança que “tinha ganhado o melhor presente do Natal”. Era por aí. Em meus braços, ela. Nas minhas mãos, a parte dela que, volta e meia, eu era repreendido por tentar chegar perto.

E que menina nunca bateu num namoradinho mais atrevido que tentou pegar nos seus peitos?
Aquela não foi nossa primeira vez. A primeira ainda estaria reservada para uma outra tarde. Talvez o pouco tempo que tínhamos para ficar naquele lugar, naquela noite, não nos permitisse ir mais longe. Foi bom assim. Cada dia com uma história diferente, com a mesma pessoa. E não poderia ser melhor. Com ela, que tanta paciência teve com as minhas mãos e meus braços de polvo, percorrendo como tentáculos todo o seu corpo e recebendo olhares de censura.
Hoje ainda sinto a mesmíssima excitação quando a cena se aproxima. Peça por peça, meu coração volta no tempo e bate apressado como naquele dia. Tudo bem, às vezes mal se tem tempo de desfrutar da entrega que é pedir pro outro tirar a sua roupa, como quem faz um convite para adentrar no seu corpo. Pena que muita gente já chegue pelado e pule a parte da sedução, da imaginação do que se esconde por trás do algodão.
A primeira namorada, ainda que se vá pela vida e não dê mais notícia, fica marcada na cabeça de qualquer cara. A primeira mulher da vida desse mesmo cara, ainda que mude e hoje não tenha mais nada a ver com o que era, vai sempre residir em sua história como aquela de olhos que se apertavam ao soltar um sorriso, tão frouxo no rosto.



— Gustavo Lacombe

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